Logan (2017)/Impressões
- Ábine Fernando Silva
- 3 de fev. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de mar. de 2024
Direção: James Mangold
Roteiro: James Mangold (História Original), Scott Frank (Roteiro).
Elenco principal: Logan (Hugh Jackman), Charles Xavier (Patrick Stewart), Laura/X-23 (Dafne Keen), Donald Pierce (Boyd Holbrook), Caliban (Stephen Merchant).
“Logan” de James Mangold propõe um tipo de representação ficcional do universo "X-men" que converge mais para o drama realista, apropriando-se muito bem de certa potência "road-movie" ao passo em que rejeita, por outro lado, a fantasia cartunesca leve e despretensiosa. Esse tom mais austero da narrativa acaba privilegiando o espectador adulto, não apenas porque apela de forma crua e direta para uso de uma violência gráfica até exagerada, mas também porque desenvolve uma trama cujo núcleo temático explora uma espécie de crise existencial do herói num mundo que o rejeita e o marginaliza, além de privilegiar, é claro, a dinâmica do envolvimento e do vínculo emocional entre os protagonistas Logan (Hugh Jackman) e Laura (Dafne Keen). Mangold absorve a atmosfera sombria e decadentista dos Hq's de "O Velho Logan" de Mark Millar e Steve McNiven evidenciando o alheamento auto destrutivo de um Wolverine envelhecido, cansado e depressivo que vive no anonimato trabalhando como motorista de limusine e revezando às escondidas, junto com o mutante Caliban (Stephen Merchant), os cuidados com o já bem idoso e debilitado Professor Xavier (Patrick Stewart). À medida em que ao amargurado Logan é delegada a missão de proteger e escoltar até a fronteira com o Canadá a pequena X-23, caçada por um grupo de mercenários do governo, cria-se o ensejo para uma série de situações que gradativamente estabelecem um laço afetivo entre essas duas figuras tão arredias e turbulentas que indubitavelmente se espelham pelos laços consanguíneos. E é justamente esse elemento associativo tão rico e instigante que enriquece o núcleo dramático da trama, uma vez que a direção vai explorando a personalidade "explosiva" de seus protagonistas pelo viés de uma projeção um tanto repulsiva e conflituosa, para mais adiante, consolidar de vez a aproximação afetiva entre "pai" e "filha". O roteiro do longa se beneficia da "essência dramática" da mítica mutante, calcada no fenômeno xenofóbico e segregacionista, mas, superdimensionada aqui pela "extinção" quase completa dessa raça que encontra um vislumbre de horizonte por meio de um grupo de crianças excepcionais, criadas como cobaias num laboratório clandestino e forçadas a servirem como armas de guerra. A pegada mais distópica e violenta do filme evidencia bem essa desolação generalizada e um certo niilismo que impregna, especialmente, a conduta do protagonista. Contudo, à medida em que o personagem de Hugh Jackman se engaja na arriscada missão, deixando aflorar seu senso paterno e estabelecendo, definitivamente, vínculos afetivos com a garotinha, sua existência finalmente parece se preencher de significado, potencializando ainda mais a dimensão catártica da ação. Nesse sentido, Mangold ao resgatar com uma boa dose de nostalgia metalinguística o faroeste de George Stevens "Os Brutos Também Amam", 1951, acaba celebrando não só a poderosa conexão sentimental e familiar entre Wolverine, Laura e o próprio Xavier, como também evocando a esperança na justiça e na solidariedade humana, contrapondo-se ao contexto sombrio que o filme articula, regido por forças corporativas predatórias e por interesses governamentais e bélicos inescrupulosos. Esse contraponto realista e sério da obra em relação às produções Marvel da atualidade encontra vazão numa encenação que pra além da ação eletrizante, estilizada pelos recursos de computação gráfica, repleta de combates sangrentos e brutais, preconiza as relações interpessoais entre os personagens e a "química" da interação, promovendo pela intensidade emotiva dos gestos, dos diálogos e até de certo alívio cômico, a importância de valores familiares como o cuidado, a atenção, o carinho e a proteção. Em suma, "Logan" de James Mangold entrega ao espectador uma experiência genuinamente envolvente e cativante, apostando num enredo maduro e numa proposta narrativa mais realista, seja pelo viés do drama existencial e familiar centrado na constituição afetiva, seja pela pegada dinâmica e estilizada da ação violenta.
Nota: 7 / 10
Por: Ábine Fernando Silva
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